terça-feira, novembro 08, 2005

Para mim, o Natal é...

Para mim, o Natal significa duas coisas: a difícil ginástica de juntar o máximo de membros da família - tarefa complicada depois do divórcio dos meus pais (apesar da noite da véspera de Natal ser, sempre, com a minha mãe), e dos dois divórcios do meu tio, que deixa os meus quatro primos separados ao meio... Isso além daquela história do politicamente correcto, que mete a minha tia a jantar connosco um ano e no seguinte com os pais do marido, e que vai acontecer também com a minha irmã. Enfim, todos os anos o sorteio é diferente, mas o resultado é o mesmo: estamos juntos, o máximo possível, e isso é bom.
A outra coisa é o ritual de fazer filhós - das redondas e das estendidas - com a minha avó. Todos os anos, a minha avó faz a massa e depois eu e a Milu passamos a tarde a esticar e a cortar a massa, enquanto a Maria Alice frita as tirinhas que lhe vamos passando. Depois eu passo tudo por açúcar e canela e vou comendo uma ou outra, bem quentes, e chego invariavelmente sem fome à ceia de Natal. Passamos a tarde nisto, começamos sempre demasiado tarde e acabamos as filhós quando a minha mãe já está quase a servir o bacalhau. Rimo-nos com as formas que as filhós redondas ganham dentro da fritadeira - olha, parece um pintainho. olha o biquinho, os olhinhos, diz sempre a Maria Alice - e encolhemos os ombros quando ela avisa que "este ano, a massa não ficou boa", ou quando ela garante: "para o ano são vocês sozinhas, que eu já não aguento isto". Mas todos os anos ela está lá e eu não quero pensar em fazer filhós sem a minha avó.
Este ano não sei mesmo como vai ser. Se Deus quiser, nessa altura já a Milu terá tido o meu primo, o "chefinho", o nome que o Tomás deu ao irmão que vem aí. Temos de angariar mais uma trabalhadora, ou então, fico só eu e a avó.
Gosto de juntar esta família meio desconjuntada que é a minha, com tantas histórias infelizes, mas mesmo assim com capacidade para sorrir, às vezes.
Nunca tivemos o hábito de ir à Missa do Galo, talvez porque quase sempre houve crianças pequenas, que não aguentavam até à meia-noite. Só conseguimos fazer isso há dois ou três anos. Fomos todos à Trafaria, e lembro-me de estar muito frio, e de os primos mais velhos tentarem disfarçar o riso quando o Bruno se atrapalhou no Pai-Nosso.
Por isso, cada vez me entristece mais esta loucura das compras, os shoppings cheios o dia todo, a azáfama, o apelo ao consumismo. Isso está tudo tão longe do que o Natal devia ser...
Por isso, primeiro por falta de dinheiro, mas depois porque gosto do princípio, tenho tentado fazer os presentes, imprimir algo pessoal naquilo que ofereço às pessoas. No ano passado, comprámos frascos de vidro grandes e molduras no ikea, que decorámos com fotos tiradas por nós. Os frascos foram enchidos de "pupias", uns bolinhos tradicionais da minha família, segundo receita da minha bisavó, a avó Júlia, que nos seus últimos tempos tinha por hábito mudar as divisões da casa, empurrando os móveis com o rabo. Eu e a minha avó fizemos centenas de "pupias", depois eu atei umas receitas aos frascos e decorei-os com ráfia. Acho que ficou giro e que as pessoas gostaram da ideia. E eu gostei de ter dedicado tanto tempo àquilo.
Assim o Natal fez mais sentido.
JH.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá, estou a gostar muito do vosso blog, tive conhecimento deste através do blog do Tiago. Este post faz-me lembrar o meu Natal , principalmente a parte das filhós. As avós são mesmo todas iguais:). Beijinhos às duas.

Adélia

Anónimo disse...

A pergunta que fica é...o que me vais oferecer este Natal hum? ;)

Anónimo disse...

Acreditas que no natal aquilo que eu não gosto em termos de comezainas é mesmo...das filhós??? Lá em casa não fazemos, mas vem a antiga empregada e vai lá levar "às meninas", vem a avó da amiga da prima e tráz mais umas quantas "quentinhas e boas", vem... uma infinidade de filhós e eu sem conseguir gostar! E ainda dizem que o gosto se educa...