segunda-feira, dezembro 12, 2005

Em contagem decrescente

Se tudo correr bem, o Afonso, mano do Tomás, nasce dentro de uma semana.
Quem manda agora são os médicos: nada de esperar pelas contracções, pela altura certa. Nos dias de hoje, a médica abre a agenda e pergunta à grávida: segunda-feira às 19h, está bom para si? Olhe por acaso não, doutora, é que ainda tenho uns embrulhos de Natal para fazer. Pode ser no dia seguinte, às 12h? É que assim aproveitava a hora de almoço do meu marido...
Enfim...
Uma das coisas de que eu tenho mais curiosidade é a reacção do Tommy ao mano. Por agora tudo bem, fala do Afonso, mostra com orgulho o quarto do mano, as roupas do mano, a caderinha do mano... Vamos lá ver se a excitação continua depois. Eu acredito que sim. O miúdo tem bom feitio.
A propósito disso, lembrei-me de como eu reagi quando o meu irmão nasceu, tinha eu cinco anos e tal. Bem, na verdade, não tive qualquer reacção negativa ao nascimento do João Pedro. O pior foi a gravidez da minha mãe.
A coisa começou logo a descambar quando, por causa das consultas frequentes no médico, me deixavam a secar no externato, O Balão. Lembro-me perfeitamente de algumas vezes ser noite e eu continuar lá sozinha, à espera que alguém se lembrasse de mim. Não foram assim tantas vezes, mas eu não gostava daquilo, pronto.
O dramalhão começou quando a notícia se confirmou. Estávamos em casa da minha avó, bateram à porta e fomos todos abrir. Recordo-me nitidamente de a minha mãe se ter inclinado sobre mim e dizer "Tenho uma semente na barriga!". Todos celebraram a notícia, todos ficaram muito felizes, menos eu! Só eu fiquei aterrada, pés colados ao chão. Na minha cabeça surgiu logo a imagem de uma planta a crescer na barriga da minha mãe, e que iria aumentar tanto até acabar por trespassar a barriga, matando a minha mãe, claro. Todos a bater palmas, aos abraços e beijinhos e só eu ali, especada, a questionar-me como era possível estar tudo tão contente perante a morte iminente da minha mãe. Claro que não fiz perguntas sobre o assunto. Tinha medo que ficassem tristes.
Os meses foram passando e eu a olhar de soslaio para a barriga, a crescer, e a ver quando é que os ramos e as folhas iam começar a furar a barriga.
Bem, o crianço lá nasceu e eu fui visitá-lo a Benfica, à Cruz Vermelha, onde todos nascemos, tal como o Tommy e agora o Afonso. O meu pai levou-me ao berçário e, apontando para um dos berços, disse: "Aquele bebé chama-se João Pedro Cardoso da Silva Casqueiro Haderer". Eu devo ter achado o nome demasiado longo e perdi-me a meio, porque não percebi na altura que aquele era o nome completo do meu irmão. Imagino o espanto do meu pai quando eu respondi. "Ah, e aquele?", a apontar para outro berço. "Oh
Joana, este é que é o teu irmão". E desta vez eu olhei, olhei mesmo para aquela coisinha engelhada e exclamei: "parece um macaquinho!".
Não me lembro de muito mais dos primeiros meses do meu irmão, à excepção de umas partidas que eu lhe preguei.
JH

Sem comentários: