Há anos que é assim. Estico a mão para te alcançar, mas tu estás sempre um passo mais à frente. E eu tento, eu juro que me esforço para chegar a ti, mas tu acabas sempre por me escapar. Embrulhas-te no teu casaco azul escuro de flanela e abanas a cabeça. Olho para ti. Engraçado, o teu cabelo ficou quase todo grisalho no último ano. São os problemas, dizes. Bem sei. Mas fica-te bem. Agora já não estás tão parecido com aquele jornalista da TVI, o Henrique Garcia. Sempre vos achei parecidos, mas ele não deve ter tantos problemas na vida.
"Anda, eu ajudo-te a procurar uma casa". Não quero que voltes àquela vida antiga, não quero que te sintas preso no teu dia-a-dia, gostava tanto que tivesses um espaço só teu, onde te encontrasses, um sítio onde te pudéssemos visitar. Porque nunca tiveste uma casa tua. Era sempre a casa dela, e esse era um território proibido para nós, cheio de terríveis dragões e caldeirões fumegantes. E nunca nos deste a palavra secreta para lá entrarmos.
Não queria que estivesses sozinho, nunca quis esta vida para nós.
"Queres passar o Natal connosco?". Não sei, logo se vê, respondes, na tua maneira de dizer não. Eu sei que não vens.
JH
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