O MEC não podia estar mais certo. Bem sei que as pessoas não o fazem por mal e que procuram só um consolo. "É melhor assim", "o tempo cura tudo" e "antes agora que mais tarde" são daquelas expressões que se dizem sempre a alguém cujo coração acabou de ser destroçado. Quem nunca as disse que atire a primeira pedra...
Fórmula fácil, recurso frequente quando não se sabe o que dizer. E, claro, depois de se chamar muitos nomes feios ao responsável pelo desgosto.
Bem sei... ouvi-as demasiadas vezes no ano passado.
Como se fosse realmente melhor termos o coração partido "agora" que "mais tarde". Como se isso fosse de facto um consolo. Porque o que realmente nos passa pela cabeça nesses momentos é... "e que tal nunca?!".
"O tempo cura..." E o que é que fazemos com o tempo até lá?
Enganamo-nos a nós próprios. Fingimos que acreditamos realmente no que nos dizem, forçamo-nos a sorrir, saímos mais e tentamos divertir-nos. "Agora vou fazer tudo de forma diferente", juramos. Nessa fúria de mudança, criamos novos hábitos, cortamos o cabelo, compramos roupa nova, fazemos uma remodelação do nosso quarto. Tudo diferente, start over, reset o sistema. Porque remodelar o coração é bem mais difícil e não há designer de interiores, por muitos bons conhecimentos de "feng-shui" que tenha, que nos possa valer nessas alturas.
É triste só gostar
(por Miguel Esteves Cardoso, na Actual de sábado passado)
Os desgostos de amor são horríveis. E, por serem horríveis, as pessoas dizem que fazem parte; que dão força e fazem crescer. Tal é o medo de aceitar a totalidade da tragédia que são que se chega ao ponto de ver os desgostos de amor como um rito de passagem não só para a humanidade como para o próprio amor - o que é muito mais grave. É sempre outrem que fala assim levemente; alguém que, se calhar, nunca teve um desgosto de amor digno do nome ou, se o teve, já o esqueceu e, ao esquecê-lo, provou que nunca amou, por muito desgostoso que tenha ficado. Porque também existe o desgosto de ser abandonado por alguém de quem nos habituáramos a fugir, e de já não ser amado por quem nunca amámos. Mas isso é um simples desgosto que nada tem a ver com o amor. Já um desgosto de amor é um desgosto completo: uma desilusão e uma angústia; uma frustração de quase não existir, que começa por nós próprios, num incêndio de chuva que vai por aí afora até estragar o mundo inteiro, incluindo o que mais se queria proteger: a pessoa amada. Os abutres da consolação pretendem reclassificar os desgostos e ofender o amor e, distraídos pelo prazer necrófilo de cheirar, mesmo numa pessoa amada, a morte do amor alheio - tão secreta e infinitamente invejado! -, chegam a dizer as três palavras mais estúpidas, cruéis, inúteis e indignas daquelas circunstâncias: "Foi melhor assim."
Acrescentando, às vezes, mais duas: "Deixa lá. " Como se pudéssemos responder: "Boa ideia - vou deixar!"
Os desgostos de amor estragam a alma. É preciso ter muito medo deles. Respeito. Cuidadinho. Tratar o amor nas palminhas. Mesmo antes de chegar a pessoa que se vai amar. É que os corações ficam partidos.
Deixam de poder amar. E, em vez de amar, tornam-se músculos leves e cínicos, trocistas e elegantes.
Pode até ser muito giro ser assim. Mas está para o amor como o gosto duma pedra de sal está para o mar.
E às vezes ainda é mais triste: é o próprio gosto pelo amor, como quem gosta de um prazer qualquer, que mata o amor - a possibilidade de amar - logo à nascença. Será este o único desgosto, por muito caladinho que seja, tão grande como um desgosto de amor.
JH
10 comentários:
Obrigada amiga por partilhares estas palavras connosco! Só mesmo qm passe por ele ("desgosto de amor") sabe dar valor ao verdadeiro amor.........
consultas musicais para os males de amor no Anacruses
"reset", "start over"...
curioso.
Mas afinal o que é o amor?
Eu sempre que amo marro com cabeça na parede e bolas... às vezes doi bastante:)
Mas sempre que acontece fico um pouco mais crescido e tento pensar que amanha é outro dia. Eu disse tento não quero dizer que sempre o consiga:)
Força C. e amanha é outro.....dia
"Ter um desgosto de amor faz-nos deixar de ver o rosa.
E depois, com o tempo, sim o tempo, sempre o tempo, o mal amado tempo que parece nunca passar, recomeçamos, aos poucos, a voltar a ver o rosa. Primeiro assim, esbatido, a medo, um rosa suave, quase imperceptível. Depois mais e mais forte, rosa e mais rosa, e voltamos a acreditar, a sonhar, a viver."
Me, in my own blog ;)
Acho curioso a quantidade de chorosos... e os corações q VOCÊS partiram????
E as lágrimas q correram por VOSSA causa...
E quem esteve do outro lado da "trincheira"? Quem sofreu nas vossas mãos inquisidoras, por vezes? Quem chorou pela vossa ausência, de corpo e muitas vezes de espírito e quase sempre de atitudes?
Longe dos olhos longe do coração, certo?
Q piada.
J.
É lamechas, é até "pimba", é piegas...mas foi cantado: "Si te vas a marchar, llevate antes mi cuerpo."
é exclente , passei exactamente pelo mesmo e é bom saber que nao acontece só a nós.
Dizem que "o tempo cura tudo..." mas não acredito nisso.
Se as coisas ficarem resolvidas... custa, mas cura e passa. Lembras-te dos amores de criança? Paixões assolapadas... hoje já deves sorrir ao lembrar o passado. Mas... "unfinished business"... voltam ao de cima quando menos se espera. Mas custa, muito, sempre!
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