"Um dia, o teu avô começou a penhorar as coisas lá de casa, para emprestar dinheiro a um amigo, que tinha uma amante. Até tirou o fio de ouro do pescoço da tua mãe, coitadinha, que era uma criança. O amigo era casado e tinha um filho, mas envolveu-se com uma mulher que já tinha uma data de filhos. Quando soube que o teu avô tinha tirado o fio da menina, fui ter com ele à garagem e, à frente de todos os empregados, confrontei-o. Ele não gostava nada que eu fizesse isso, mas eu sempre contei tudo. Aos filhos também. Fui perguntar-lhe pelo fio da tua mãe e ele, com aqueles modos dele, disse-me para tirar a aliança do dedo."O quê? Queres que eu tire a aliança?". Dei meia volta e fui a casa buscar uma faca. Um facalhão grande. Voltei à garagem, dei-lhe a faca, maluco como ele era, e estendi a mão. "Se queres tirar-me a aliança, o dedo vai junto. Corta, corta-me o dedo. A aliança vai, mas o dedo também". Era muito nova, tinha pouco mais que 20 anos. E nunca mais o tirei, durante 50 e tal anos. Só agora é que deixou de me servir, há dois ou três anos."
Foi esta história que a minha avó me contou, quando me ofereceu a sua aliança, ontem à noite. Redondinha, dourada, larga. Muito bonita. Não sei se me casarei um dia, mas gostava de usá-la.
JH.
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